Historial de 25 Anos da CACAV

Quando partimos do “Cais do Futuro”, foi um agitar de águas, foi um dizer não ao marasmo e ao amorfismo, impulsionados por um certo desassossego que habita em cada um de nós.

Inspirados pelo Zeca Afonso, que na sua canção nos dizia “Vejam bem que não há gaivotas em terra, quando um homem se põe a pensar”, fomos avançando na construção de um Projecto Cultural para a nossa terra.

As nossas actividades foram surgindo à dimensão dos “sonhos” e da vontade das pessoas, vivendo num entrosamento permanente, entre o individual e o colectivo.

Os filmes projectados no Café do Júlio, no CRI e na cave da “Velhinha”, foram um momento simbólico e também uma alusão ao antigo cinema que tinha fechado as portas recentemente.

A Poesia e o Desenho, sob a forma de concurso, constituíram uma das primeiras actividades que nos levaram a “abraçar” o Tejo.

Este olhar constante para o “nosso Tejo”, foi motivo de muitas iniciativas, de muito trabalho de recolha de dados, do registo de testemunhos e de muitas memórias que não queríamos deixar perder. Por esse esteiro acima, a bordo do nosso “Alcatraz” ou da “Gaivina” do Vitor Ribeiro, percorremos as rotas da Ilha do Rato, da Coroa dos Pássaros e do Moinho da Enxarroqueira. Mas também fomos à Ilha do Cavalo, em pleno Sado e à Arrábida, que continua a ser um “santuário” da natureza, que nunca deixamos de visitar e contemplar. O gosto pela Natureza deu origem ao “Ecos da Terra”, que representou a vertente ecológica e de defesa e preservação do ambiente, que tem estado sempre presente na vida da CACAV. Mais tarde veio a surgir o Fórum Ambiente Sec. XXI, que desenvolveu algumas actividades sobre a nossa zona ribeirinha.

O Cais de Alhos Vedros a ser uma passagem obrigatória, por entre botes e canoas, cruzámo-nos com os nossos “heróis”, que nos deslumbravam com as suas histórias e os seus saberes. O Mário da Graça, o Manuel Tavares, o João Manta e tantos outros, que ficarão para sempre na nossa memória.

Quantas histórias ficaram ainda por contar?

A importância que sempre demos à História Local, revela a nossa perspectiva de preservação da nossa identidade cultural, cujo tema tem preenchido uma grande parte da existência da CACAV.

A comemoração da atribuição do Foral de Alhos Vedros, foi um dos acontecimentos que deu lugar a muitas iniciativas de reconstituição histórica, de animação cultural, a investigações, edições de livros e de colóquios e conferências. Todo este entusiasmo pela descoberta de factos históricos, culminou com a organização do Campo de Trabalho sobre Arqueologia, em redor da Igreja Matriz de Alhos Vedros.

A elaboração do Projecto para a criação do ECOMUSEU, foi o culminar de um percurso trilhado pela CACAV, que sempre se caracterizou por um associativismo de intervenção, preocupado com as questões da nossa comunidade.

A aprendizagem e a criação têm estado sempre presentes nas diversas iniciativas, através das Exposições, das edições de diversos materiais, dos Cursos de Desenho, Pintura e Fotografia, que deram muita energia para o funcionamento da “Oficina d’Artes”, que através dos Ateliers de Pintura, Cerâmica, Azulejaria, Fotografia e Guitarra, foram gerando dinâmicas que originaram outras actividades viradas para o exterior numa perspectiva de divulgação e de partilha de saberes. Estão neste âmbito a realização da “ARTESVEDROS” – Exposição de Pintura, Cerâmica e Artesanato, que se realizou pela primeira vez na Praça da República, em 1992. Seguiu-se a Maratona Fotográfica de Alhos Vedros, os Encontros de Outono e a Bienal de Pintura de Pequeno Formato, de âmbito nacional, que dedicamos a Joaquim Madeira.

A animação cultural tem sido uma constante, ao longo de todos estes anos de vida. Quer através da música, quer de debates, onde não podemos esquecer “Alhos Vedros que Futuro?”, realizado no auditório da SFRUA. Neste âmbito o projecto da Rádio Opção, fica como uma referência no movimento das Rádio Locais, que manteve uma grelha diária de programação, onde se aglutinavam dezenas de colaboradores, nas antigas instalações do antigo Cinema de Alhos Vedros.

Também houve espectáculo e momentos de alegria, quando aconteceu “Em Maio vamos Cantar Zeca Afonso”, com o Cais de Alhos Vedros a transbordar, para ouvirmos o José Mário Branco, o Francisco Fanhais, o Naia e o João Pimentel. Pela Capela da Misericórdia também passaram nomes como o Maestro António Vitorino de Almeida, Fernando Lopes Graça e o Coro da Academia dos Amadores de Música. Pelo Moinho de Maré o Firmino e o Projecto Musidanças, que nos levou pelos caminhos da lusofonia; o Zeca Medeiros, a Filipa Pais, o João Afonso, o Luís Macedo o Rui Pais e os Gaita e Folia que nos encheram o coração ao som das gaitas de foles, e tantos e tantos outros que ficarão para sempre ligados a nós.

As misteriosas “Noites de Lua Cheia”, ficarão para sempre como um dos momentos emblemáticos daquilo que tem sido a nossa CACAV ao longo destes 25 anos de vida. Fazer a história destas noites é falar do encontro entre as pessoas, é falar de partilha de ideias, é deixarmos correr a poesia à solta. Nestas “Luas Cheias” a CACAV cumpriu-se, através da poesia, da música, da pintura, da fotografia e de muitas amizades que fomos semeando. Envoltos nesta magia de sermos simultaneamente actores e espectadores, percorremos quase todas as Colectividades de Alhos Vedros, fomos também ao Ginásio da Baixa da Banheira e ao Rosário. Passámos também pelo Teatro O Bando em Palmela e demos um “salto”, até à Abril em Maio, em Lisboa.

A solidariedade, a fraternidade e a amizade, são valores que têm estado sempre presentes em tudo o que fizemos, querem situações breves e singulares, quer em momentos mais visíveis, como foi o caso de Timor, onde conseguimos juntar esforços e gentes, que encheram o polivalente da Escola José Afonso de Alhos Vedros. Houve debate, intervenção de músicos e foram endereçadas muitas mensagens que certamente chegaram a Timor Leste.

“Ai Timor…”

O nosso contacto com o Profº Agostinho da Silva e a sua passagem por Alhos Vedros, veio a ocupar um espaço muito importante da vida da CACAV, abrindo uma frente de ideias e de outros modos de pensar, de ser e de estar, que nos contagiou a todos.

A entrada em funcionamento da Escola Aberta Agostinho da Silva, na Casa Amarela, constitui o Projecto mais recente que conseguimos pôr em marcha e pelos eventos que já ali ocorreram nestes 2 anos de existência, a expectativa é grande.

“Vamos navegando à bolina…”

Apesar de alguns constrangimentos ainda não nos deixámos abater pelo desânimo, porque ainda temos “tanto mar” para descobrir, e iremos continuar a pensar e a agir com “Saudades do Futuro”!